MIRA-ME

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Love lessons


Those who know me know that what really grips me during this near extinct act that is having a face to face conversation is getting to know someone's intimacy. I like to know how two lovers met and how their story developed regardless of whether it had an happy ending or not. 

Maybe it's because love is such a complex equation, with so many mysteries and possible paths that I never get tired of exploring it in my conversations. I like to have this dialogue not only with other people but also with myself. I like to look at my love map and analyze my trajectory. After all, the people we fell in love with and the stories we make together make up a lot of what we've become.

Looking at the first time I really fell in love, I realize that the notion I had at the time of what love is could not be more distant from the one I have nowadays. I don't really have many happy memories of this story, but somehow I am grateful for it because I know that I can only love the way I do today because I have lived through that experience.

There must be a reason for why in English when someone finds love we say that that person "has fallen". Love is exactly that, a free fall where one only survives if the reciprocal is there to catch the other. In the case of the story to which I refer, I now realize that I was free falling throughout the whole time. No parachute. No armor. No hands to hold. 

Perhaps there is nothing more eruptive than a first love. In addition to the natural hormonal cocktail of adolescence, for all I know there was also an overwhelming desire in me to recreate in my first attempt the fantasies that were inflicted on me during childhood.

With the maturity that time has given me, I see that what I experienced during this period may not have been love but a kind of addiction related to the sense of relief. Meaning, it was as if the roller coaster of emotions generated between the drama and making peace was a drug on which I depended. As with any addiction, the patient is never able to identify his addiction, so however much any of my friends tried to catch me during that free fall, I always refrained from grabbing their hand.

There wasn't any thing more powerful than the sensation of losing him and conquering him back. The reconciliations provided moments of extreme joy and a boost in my self-esteem. In one way or another I thought that if I kept insisting on this dynamic, maybe one day he would become what I wanted him to be. I have noticed in many of the women with whom I speak that the same has happened to them too, often in a first love we fall for an idea that we build and not the person in question. Somehow this seemed to me to be an acceptable form of love. I remember believing that love would not be love if it didn't involve this kind of pain. I think that this constant search for something unreachable was just a way to avoid being alone with myself. Looking back I can see clearly that there was no compatibility between us what so ever. Yet I remained in this relationship because the destruction it caused me made me, somehow, feel alive. Little did I know that reciprocated love is a much more potent drug where one's trip is, perhaps, able to last a lifetime.

It may be that in the future people will say, about the relationship I'm in now, that we lived (almost always) happily ever after. Given that life is extremely unpredictable I don't know if I am in a position to predict eternity in us, but I am certainly in the position to desire it. As I write this I know that there is in me much love for him and, it seems to me, that it's mutual. And for that I feel extremely privileged. Luck is really a big component in this compatibility game of love. You have to be in the right place at the right time, but above all, emotionally available for the cupid's arrow to hit you.

Do not be fooled by the glamour of pain, or by the notion that love is a constant slamming of doors, bad sex, loneliness, an empty bed and sleepless nights ... In real love, both parties take care of each other. So if in this lottery you end up having the opportunity of connecting with someone who looks after you as much as you do for him / her, do not be afraid of the fall ... close your eyes, open your arms and as you come to the edge of the ravine, take a step forward!

Quem me conhece sabe que o que realmente me prende durante este acto em extinção que é a conversa é ficar conhecer a intimidade de alguém. Gosto de saber como é que dois amantes se conheceram e de como é que a sua história se desenvolveu tenha ela um final feliz ou não. 

Talvez seja pelo facto do amor ser uma equação tão complexa, com tantos mistérios e possíveis caminhos que eu nunca me canse de o explorar nas minhas conversas. Gosto de ter este diálogo não só com outras pessoas mas também comigo mesma. Gosto de olhar para o meu mapa amoroso e analisar a minha trajectória. Afinal de contas as pessoas por quem nos apaixonamos e as histórias que juntos compomos contribuem em grande parte aquilo em que nos tornamos.

Analisando a primeira vez em que me apaixonei de verdade apercebo-me que a noção  de amor que eu tinha na altura não poderia estar mais distante da que tenho hoje em dia. Não guardo propriamente memórias felizes desse história, mas de alguma forma estou grata por ela porque sei que só sou capaz de amar da forma como o faço hoje por ter vivido essa experiência. 

Em inglês quando alguém se apaixonada diz-se que essa pessoa “has fallen”. O amor é isso mesmo, é uma queda sem para-quedas onde só se sobrevive se o recíproco nos apanhar. No caso da história a que me refiro consigo agora perceber que, durante todo o período pelo qual se prolongou, estive constantemente em queda livre.

Talvez não exista nada mais eruptivo do que uma primeira paixão. Para além do cocktail hormonal natural da adolescência talvez houvesse uma vontade desmedida em mim de concretizar à primeira tentativa as fantasias que me foram impingidas durante a infância. Com a maturidade que o tempo me deu vejo que o que eu vivi durante esse período talvez não tenha sido amor mas sim um género de um vício relacionado com a sensação de alívio. Passo a explicar, era como que se a montanha russa de emoções gerada entre o drama e o fazer as pazes fosse uma droga da qual dependesse. Como em qualquer vício, o doente nunca é capaz de identificar a sua adição, portanto, por muito que os meus amigos me tentassem apanhar durante essa tal queda livre eu abstive-me sempre de agarrar as suas mãos. 

Não havia sensação mais poderosa do que a de pensar que o iria perder e acabar por conquistá-lo novamente. As reconciliações proporcionavam momentos de alegria extrema e um boost na minha auto-estima. Talvez eu pensasse que se continuasse a insistir nesta dinâmica um dia ele se tornaria naquilo que eu queria que ele fosse. Tenho notado em muitas das mulheres com quem falo que o mesmo fenómeno se confirma nas suas histórias também, muitas vezes num primeiro amor apaixonamo-nos pela ideia que arquitectamos e não pela pessoa em questão. De alguma maneira esta parecia-me ser uma forma aceitável de amar. Eu lembro-me de acreditar que o amor não seria amor se não implicasse este tipo de dor. Julgo que esta constante busca por algo inalcançável tenha sido apenas uma forma de evitar estar sozinha comigo mesma. Olhando para trás tenho plena noção de nunca houve compatibilidade nenhuma entre nós. Ainda assim permaneci nessa relação porque a destruição que a mesma me causava fazia com que me sentisse, de algum modo, viva. Mal sabia eu que o amor correspondido é uma droga bem mais potente cuja moca é, quem sabe, capaz de durar a vida toda. 

Pode ser que no futuro se diga, acerca da relação que vivo hoje em dia, que vivemos (quase) felizes para sempre. Tendo em conta de que a vida é extremamente imprevisível não sei se estou na posição de prever em nós a eternidade, mas, certamente, estou na posição de o desejar. Neste momento enquanto escrevo isto sei que há em mim muito amor por ele e, parece-me, que é mutuo. Apenas por isso sinto-me extremamente privilegiada. Sim, porque a sorte é realmente uma grande componente neste que é o jogo da compatibilidade. É preciso estar no lugar certo à hora certa mas, acima de tudo, emocionalmente disponível para que a seta do cupido nos atinja. 

Não se deixem enganar pelo glamour do sofrimento, ou pela noção de que o amor é um constante bater de portas, mau sexo, solidão, cama vazia e noites de insónias... No amor ambas as partes cuidam uma da outra. Portanto, se na lotaria da paixão te calhar a oportunidade de conectar com alguém que olha por ti tanto como tu por ele(a) não tenhas medo da queda...fecha os olhos, abre os braços e, quando estiveres na berma da ravina, dá um passo em frente!


 

 


* Photos taken by Beatriz Oliveira. These are my own images and they may not be used for commercial purposes without prior consent. In case of a repost please credit me.