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Bookclub - O ano da morte de Ricardo Reis


Quem tem um blog por norma tem como missão inspirar os seus leitores, mas o mais engraçado é que quem acaba por me inspirar são vocês. Ao longo do tempo foi me sugiro por vários seguidores que criasse um bookclub. Na realidade não me pareceu que fosse o tipo de coisa que fosse interessar a muita gente, mas a verdade é que ler é um dos meus hobbies preferidos, portanto criar um bookclub seria uma coisa que me daria muito prazer. Ainda que mo fosse sugerido com regularidade, decidi recorrer a uma sondagem no Instagram para ter mesmo a certeza de que seria uma boa ideia. E, para meu espanto, o feedback positivo que recebi foi o empurrão final de que estava a precisar, por isso obrigada por me motivarem e por mostrarem interesse no que eu tenho a dizer sobre os livros que leio.

A ideia será sugerir um livro no início do mês e no final do mesmo publicar um post com as minha impressões a cerca do livro lido e quiçá ler a vossa opinião através dos comentários.

No entanto este primeiro post será sobre uma obra que já li há uns meses mas que passou a ser leitura obrigatória para os alunos do 12º ano e, como tal, vários seguidores me têm pedido que a aborde aqui, falo de “O Ano da Morte de Ricardo Reis”.

Eu gosto de sublinhar os livros enquanto os leio, marcando assim as passagens que mais me tocam. Neste livro não só sublinhei como preenchi oito páginas do meu bloco de notas com frases que julgo serem algumas das mais bonitas que li até hoje.

 

"Um homem deve ler de tudo, um pouco ou o que puder, não se lhe exija mais do que tanto, vista a curteza das vidas e a prolixidade do mundo."

 

Foi também esta frase presente no livro que me encorajou a criar o bookclub, talvez esta seja uma forma de incentivar mais pessoas a ler. “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, como o título indica, conta a história de um dos heterónimos de Pessoa, Ricardo Reis, aquando do seu regresso a Portugal após dezasseis anos no Brasil. A história decorre durante um dos períodos mais sombrios da política Portuguesa: a ditadura de Salazar. Saramago entrelaça na perfeição a relação entre a vida, a morte e os estropícios da ditadura.

 

"...mas é a cidade silenciosa que o assusta, porventura morreu a gente nela e a chuva só está caído para diluir em lama o que ainda ficou de pé."

 

Talvez seja um tanto ou quanto complicado perceber esta obra sem alguma clarificação de quem Fernando Pessoa é. Pessoa foi um dos melhores escritores Portugueses e esta obra é, sem dúvida, um tributo à sua genialidade. Ricardo Reis é um dos seus heterónimos. O que Pessoa criou Saramago continuou.

O médico, Ricardo Reis, regressa pelo rio Tejo. Porque volta e para onde vai são as questões que conduzem esta fascinante narrativa. O estranhamento inicial de quem regressa e as dificuldades em processar as mudanças que a capital Portuguesa sofreu durante os 16 anos em que Ricardo Reis se ausentou são descritas de uma forma melancólica que, de certa forma, me soa familiar, não tivesse Lisboa um dia sido casa para mim também.

 

“Revolvei a vossa casa, buscai a coisa mais vil de toda ela, e achareis que é a vossa própria alma”

 

Foi delicioso acompanhar a maratona pedestre percorrida pelo médico, tantas vezes percorrida pelos meus pés também, e reconhecer através das suas palavras locais que me são tão especiais. Para além das ruas Lisboetas o médico, também poeta, percorre as ruas da solidão, uma solidão intemporal que existe dentro e fora da página, ontem e hoje...

 

“A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz.”

Quando Ricardo Reis regressa a Portugal aloja-se no Hotel Bragança, é nesse local durante uma noite fria e chuvosa que dá de caras com o fantasma de Fernando Pessoa, que o irá visitar regularmente para discutirem a vida, o amor, a poesia e o mundo em seu redor. Uma coisa é certa, a julgar pelo título do livro, Ricardo Reis irá morrer.

 

“Não há sossego no mundo, nem para os mortos nem para os vivos, Então onde está a diferença entre uns e outros, A diferença é uma só, os vivos ainda têm tempo, mas mesmo o tempo lhes vai acabando, para dizerem a palavra, para fazerem o gesto, Que gesto, que palavra, Não sei, morre-se se não a ter dito, morre-se de não o ter feito, é disso que se morre, não de doença, e é por isso que a um morto custa tanto aceitar a sua morte...”

 

Ricardo Reis não sabe como preencher os seus dias, sente-se só, encontra-se insatisfeito com a sua vida profissional, não tem família ou amigos nem necessidade de os ter. É um género de autista social que, na sua costumada pasmaceira de viver sem nada ambicionar acaba por arruinar o que poderia ser uma vida romântica satisfatória. Refiro-me a Lídia, a criada do hotel, mulher do povo e inculta mas ainda assim forte e ciente da realidade em que vive e da impossibilidade de uma relação pública com o poeta. Lídia, que carrega no ventre a vida que ambos conceberam, nada exige e vai-se tornado cada vez mais independente e distante de Ricardo Reis ao longo da sua gravidez.

Enquanto Lídia escolhe finalmente viver, Ricardo Reis vai desistindo da vida...

 

“Dois, sejam eles quem forem não se somam, multiplicam-se”

 

Para mim esta obra ilustra dois estados de vida: Ser e Estar. Às vezes só estamos, existimos, lânguidos e distantes. Temos dificuldades em Ser, em sentir intensamente, em dar propósito às coisas, em ir em busca de algo maior...Ainda que opostos, talvez estes dois modos de encarar a vida sejam igualmente indispensáveis para que sejamos capazes de a enfrentar.

Saramago é um dos escritores que mais prazer me dá ler simplesmente por gostar de passar tempo na presença da sua voz. “O ano da morte de Ricardo Reis” não é um livro para toda a gente, é para quem aprecia uma escrita complexa. É para quem tem prazer em se demorar a degustar os puzzles sintáticos de Saramago. Para mim este foi um daqueles livros que eu gostaria que nunca tivesse terminado, mas ainda, assim não sei se aos 17 anos de idade teria tido maturidade para digerir e apreciar tamanha obra. Portanto se estás a ler este livro no âmbito do programa escolar de língua portuguesa o meu conselho é que persistas na leitura do mesmo, ainda que não entendas tudo faz o esforço de o continuar até ao fim porque uma coisa te garanto, irá valer a pena.

Felizmente esta obra está traduzida em várias línguas, por isso se me lês e não entendes português não te preocupes, podes comprar a versão inglesa aqui.

Se já leste esta obra diz-me o que achaste, qual é a tua opinião, qual foi o impacto que este livro teve em ti, etc, na secção dos comentários assim podemos discutir ideias e aprender uns com os outros. 

 

I have started this blog with a mission of inspiring others, but the funniest thing is that you are the ones who inspire me. Over time several of my readers have suggested that I should create a bookclub. It did not really seem like the kind of thing that would interest a lot of people, but the truth is that reading is one of my favorite hobbies, so creating a bookclub would be something that would give me a lot of pleasure. Even though it was regularly suggested, I decided to create a poll on Instagram to make sure it would be a good idea. And to my amazement, the positive feedback I received was the final push I was needing, so thank you for motivating me and for showing interest in what I have to say about the books I read.

The idea is to suggest one book at the beginning of the month and, by the end of it, publish a blog post with my impressions about the book and maybe read your opinion through the comments section.

However, this first post will be about a book that I read a few months ago which has became compulsory reading this year for high school students in Portugal. And as such, several followers have asked me to address it here, I speak of "The Year of the Death of Ricardo Reis ".

I like to underline the books as I read them, thus marking the passages that touch me the most. In this book I've not only underlined but also filled eight pages of my notebook with sentences that I think are some of the most beautiful I have ever read.

 

"A man should read of everything, a little or what he can, given the shortness of life and the prolixity of the world..."

 

It was also this phrase in the book that encouraged me to create the club, maybe this is a way to encourage more people to read. "The Year of the Death of Ricardo Reis," as the title indicates, tells the story of one of Pessoa's heteronyms, Ricardo Reis, who returns to Portugal after sixteen years in Brazil. The story takes place during one of the darkest periods of Portuguese politics: the dictatorship of Salazar. Saramago perfectly associates the relationship between life, death and the damaged caused by the dictatorship.

 

"... but it is the silent city that frightens him, perhaps people died in it and the rain is only falling to dilute into mud those who still stand."

 

Perhaps it is somewhat complicated to perceive this work without some clarification on who Fernando Pessoa is. Pessoa was one of the best Portuguese writers and this work is undoubtedly a tribute to his genius. Ricardo Reis is one of his heteronyms. What Pessoa created Saramago continued.

The doctor and poet, Ricardo Reis, returns by the Tejo River. Why is he back and where is he going are the questions that drive this fascinating narrative. The initial strangeness of returning home, and the difficulties in processing the changes that the Portuguese capital underwent during the 16 years in which Ricardo Reis was absent, are described in a melancholy way that, in a way, feels familiar to me, had Lisbon not been my home too a while ago.

 

"Turn home, search for the most vile thing in it, and you will find it to be your own soul"

 

It was delightful to accompany the pedestrian marathon traveled by the doctor, so often touched by my feet as well, and recognize through his words so many special places to me. Beyond the streets of Lisbon, the doctor, also a poet, walks the streets of solitude, a timeless solitude that exists inside and outside the page, yesterday and today, in any life time. 

 

"Loneliness is not living alone, loneliness is not being able to keep company to someone or something that is inside us, loneliness is not a tree in the middle of a plain where only it exists, it is the distance between the sap and the bark between the leaf and the root. "

When Ricardo Reis returns to Portugal, he stays at the Bragança Hotel. It is during a cold and rainy night that Ricardo faces the ghost of Fernando Pessoa, who will visit him regularly to discuss life, love, poetry and the world around them. One thing is certain, judging by the title of the book, Ricardo Reis will die.

 

“The only difference between life and death is that the living still have time, but the time to say that one word, to make that one gesture, is running out for them. What gesture, what word, I don't know, a man dies from not having said it, from not having made it, this is what he dies of, not from sickness, and that is why, when dead, he finds it so difficult to accept death."

Ricardo Reis does not know how to fill his days, he feels lonely, he is dissatisfied with his professional life, he does not have family or friends or the need to have them. He is socially awkward, in his usual quiet way of living, with no ambition, he ends up ruining what could be a satisfactory romantic life. I am refering to Lidia, the hotel maid, a woman of a lower class, uneducated but still strong and aware of the reality in which she lives and the impossibility of a public relationship with the poet. Lidia, who carries the life they both conceived in her womb, demands nothing and becomes more and more independent and distant from Ricardo Reis throughout her pregnancy.

While Lídia finally chooses to live, Ricardo Reis gives up on life ...

 

"Two, whoever they are, do not add up, they multiply"

 

For me this work illustrates two states of living: Existing and Being. Sometimes we just are, we exist, languid and distant; we have difficulties in feeling intensely, in giving purpose to things, in craving something greater...Perhaps these two ways of facing life are equally indispensable.

Saramago is one of the writers I find more pleasure in reading, simply because I like to spend time in the presence of his voice. "The year of the death of Ricardo Reis" is not a book for everyone, it is for those who enjoy complex writing. It is for those who take pleasure in taking time to taste Saramago's syntactic puzzles. For me this was one of those books that I wish had never ended. Still, I don't know if at 17 years of age I would have had the maturity to digest and enjoy such work in the way I did now. So if you are reading this book in the context of the Portuguese school program my advice is to persist in reading it, even if you do not understand everything make the effort to continue until the end because one thing I assure you, it will be worth it.

Fortunately this book is translated into several languages, so if you read my blog and do not understand Portuguese don't worry, you can buy the English version here, make sure you buy the version translated by Giovanni Pontiero.

If you have had the chance to read this book tell me what you think, what is your opinion, what was the impact that this book had on you, etc. in the comments section so that, this way, we can discuss it and learn from each other.


“Eleanor Oliphant is just fine” é o livro que iremos discutir em Janeiro. Li-o em dois dias de tão bom que é. Esta é uma leitura muito mais fácil do que a sugerida anteriormente. Vou tentar alternar entre livros em Português e Ingles para que todos vocês possam participar neste clube. Elenor Oliphant está “just fine” mas talvez tu não estejas quando terminares este livro. Que montanha russa de emoções que este livro é! Nunca li nada assim, esta obra teve o poder de muitas vezes me querer fazer rir e chorar ao mesmo tempo. Espero que gostem de o ler tanto como eu gostei, no próximo mês quero saber como foi a vossa experiência. 

"Eleanor Oliphant is just fine" is the book we will be discussing in January. I read it in two days, that's how good it is. This is a much easier reading than the previously one suggested. I will try to switch between books in Portuguese and English so that all of you can participate in this club. "Elenor Oliphant is just fine" but you may not be once you finish this book. What roller coaster of emotions this book is! I have never read anything like this, this book had the power to often make me want to laugh and cry at the same time. I hope you enjoy reading it as much as I ldid, next month I would love to know what you think of it


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