Going home after lockdown
I surprised my grandmother who, as soon as she saw me enter the backyard, threw her hands in her face in an impulse to stop the emotion and shelter herself from the embarrassment that is for her to cry in public. Unaccustomed to seeing the woman we all take as the toughest one in the family in tears, my eyes imitated hers and soon welled up. Although teary, I was actually smiling, only the mask didn't allow me to show it. With my arms in the air, as if to reproduce the round gesture that we call “hug”, I told her in a sobbed and muffled speech by this new accessory, how happy I was to see her.
Even though on occasion I have spent longer periods away from home than during this pandemic, I have never felt more nostalgic. I found myself savouring the sardines my father usually grills for lunch with devout attention, trying to store in my memory the flavours that represent "home". I did the same with Bolas de Berlim (a creamy doughnut served at the beach), piri-piri chicken (the real one, not the one you get from Nando's), the plums from our garden and the octopus that cousin Paulinho catches when he goes fishing. In an Algarve in need of tourists, I found the peace I was craving. However, I hope that the next time I visit my hometown I find myself having trouble booking a table at my favourite restaurant, laying down a towel on one of the most popular beaches and finding parking at the supermarket.
Apareci de surpresa em casa da minha avó materna que, mal me viu entrar pelo quintal adentro, jogou as mãos à cara num impulso de travar emoção e se abrigar do embaraço que é para ela chorar em público. Desacostumada a ver a mulher que todos nós tomamos como rija que nem uma pedra num pranto, os meus olhos imitaram os dela e logo se encheram de lágrimas. Ainda que a máscara não me tenha permitido mostrar, eu estava de facto a sorrir. Com os braços no ar como que a reproduzir o movimento redondo a que chamamos “abraço”, disse-lhe num discurso soluçado e abafado por este novo acessório o quão feliz estava por vê-la.
Já houve alturas em que passei mais tempo sem vir a casa do que durante esta pandemia, no entanto este regresso foi pautado por uma nostalgia nunca antes sentida. Dei por mim a degustar as sardinhas que o meu pai costuma grelhar ao almoço com uma atenção devota, tentando guardar na memória gustativa os sabores que só em Portugal tenho a oportunidade de provar. Fiz o mesmo com as bolas de Berlim, o franguinho da Guia, as ameixas do nosso quintal e o polvo que o primo Paulinho apanha na pesca. Num Algarve carente de turistas encontrei a paz de que tanto estava a precisar. Ainda assim, espero que da próxima volte a ter dificuldade em reservar uma mesa no meu restaurante preferido, em estender a toalha numa das praias mais populares e em estacionar no supermercado.
* These are my own images and they may not be used for commercial purposes without prior consent. In case of a repost please credit me.