I fall asleep with my hand on my belly and, in that limbo between being awake and falling asleep, I imagine you bringing your hand closer to mine. So tiny. Its smallness disproportionate to the love I already feel for you. Inside the aquarium formed in my belly, I idealize you with transparent gills, dancing like the day I first saw your silhouette appear on the ultrasound screen. Your father, respecting social distancing (one day I will tell you how strange the years 2020 and 2021 were) sat in the corner of the room. As soon as the device indicated the beat of your small heart he shuffled to the end of the chair and leaned as far as he could so that he could with his hand reach mine. He stroked my palm and, although I could not see his face, I knew that he was tearing up and sighing with relief. At that moment the music of your heart rate occupied the room touching on all surfaces as if saying "I am here". Although experiencing all the symptoms, morning sickness, a crazy appetite, sensitive breasts and ruthless sleepiness, without the obvious belly that proves pregnancy, it was sometimes difficult for me to believe I had you inside me.
It was on a cold December day that your father said, “Look, should we just have a baby?". He asked with the same casualness one asks if it’s necessary to pick up more toilet paper on the way home. That's Martin, your father, a man who suggests life-long decisions in one-liners. He is also the person who said, "I think I would like you to be my girlfriend", a week after we met. I'm sure he deliberates in silence. But when the idea turns into words it comes out in short sentences. Soft and light as a balloon that, thinning of air, falls delicately on the ground. Or like an autumn leaf, flying through the garden barely touching the grass. His question shook my senses but I identified it as proof of his great commitment.
"Yes, we should have a baby", I replied.
Adormeço com a mão na barriga e, naquele limbo entre estar acordada e adormecer, imagino-te aproximando a tua mão da minha. A sua pequenez tão desproporcional ao amor que já sinto por ti. Dentro do aquário em que se transformou a minha barriga, idealizo-te com as tuas transparentes guelras, a dançar como no dia em que vi pela primeira vez surgir a tua silhueta no ecrã do ecógrafo. O pai, cumprindo o distanciamento social (um dia contar-te-ei o quão estranhos foram os anos de 2020 e 2021) sentava-se no canto da sala. Assim que o aparelho indicou o bater do teu pequerrucho coração ele chegou-se para a ponta da cadeira inclinando-se ao máximo para alcançar com a sua mão a minha. Acariciou-me a palma e, ainda que não lhe pudesse ver o rosto, soube que lacrimava e suspirava de alívio. Nesse momento a música da tua frequência cardíaca ocupou a sala tocando em todas as superfícies como que dizendo “estou aqui”. Ainda que vivendo todos os sintomas, os enjoos matinais, a fome desalmada, o peito sensível e um sono impiedoso, sem a evidente barriga que comprova a gravidez, às vezes era difícil para a mãe acreditar que te tinha dentro de si.
Foi num dia frio de Dezembro que o teu pai disse “Olha, o que achas termos um filho?”. Disse-o com a casualidade de quem pergunta se é necessário apanhar mais papel higiénico a caminho de casa. Este é o teu pai, um homem que propõe decisões desta dimensão sem qualquer formalidade. Ele é também a pessoa que me pediu em namoro com a seguinte frase, “acho que gostaria que fosses minha namorada” ao fim de nos conhecermos há apenas uma semana. Ele tem esta forma de pôr as coisas. Pode até reflectir sobre o assunto demoradamente e verificar se tem reunidas as condições necessárias. Mas quando a ideia ganha palavras sai em frases curtas, sem grandes metáforas ou louvações. As ideias saem-lhe assim de levezinho como um balão que, quase sem ar, cai suave finalmente aliviado no chão. A sua pergunta sacudiu-me os sentidos mas identifiquei-a como prova do seu grande compromisso.
-”Acho óptima ideia”, respondi.